sábado, 20 de março de 2010

Musica do curação =D eu gosto e tu?

Entrevista de Rute Anjos com Dr.ª Amália Costa

A homossexualidade em Portugal no período histórico foi sobretudo dominada pela ideologia cristã da Igreja Católica Apostólica Romana, que caracteriza a sexualidade como um acto exclusivamente destinado a procriação, pelo que todas as outras actividades sexuais são vistas como pecaminosas e contrárias a Deus. A partir do século XVI a Inquisição encarregou-se mesmo de investigar, julgar e condenar à fogueira a sodomia. Esta visão moralista da sexualidade manteve-se até finais do século XX, época em que a grande maioria dos homossexuais ainda preferia esconder-se aos olhos da sociedade. Actualmente a sociedade portuguesa tem vindo a reduzir progressivamente a discriminação com base na orientação sexual, tanto ao nível social, como político e legal, tendo, sobretudo entre as camadas mais jovens da população, a homossexualidade vindo a ser considerada como mais uma variante aceite da sexualidade humana, da esfera íntima e pessoal de cada um, e em grande parte livre de conotações de índole moral.




R.A- O que é a homossexualidade?

Dr.ªO que é que as pessoas geralmente pensam quando ouvem esta palavra? A maioria pensa em "homens e sexo". Mas a homossexualidade não se trata na realidade só de homens e só de sexo. Existem também mulheres que são homossexuais. Elas chamam-se lésbicas, enquanto os homens geralmente são designados de gays. Independentemente do sexo por que cada pessoa se interessa, existe na maioria das pessoas uma capacidade para amar. E por amor não queremos dizer só sexo, mas também o desejo de intimidade, afectividade e companheirismo. Na realidade, tanto a homossexualidade, como a heterossexualidade não são muito mais do que isto. Por isso faz todo o sentido escrever a seguinte equação para explicar o que é a homossexualidade: homossexualidade = amor. A partir de 1970 começou a surgir uma perspectiva positiva, generalizada, em relação à homossexualidade. A APA (American Psychiatric Association) retirou a homossexualidade do seu "Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais" (DSM) em 1973, depois de rever estudos e provas que revelavam que a homossexualidade não se enquadra nos critérios utilizados na categorização de doenças mentais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez o mesmo em 1993. Psicológos e sexólogos chegaram à conclusão de que a homossexualidade é uma variante da normalidade.





R.A- Qual é a diferença entre homossexuais, bissexuais e transgéneros?

Dr.ª- Resumidamente, os gays e lésbicas são pessoas que sentem atracção emocional e sexual por pessoas do mesmo sexo. Os bissexuais são pessoas que podem tanto apaixonar-se por alguém do sexo masculino, como por alguém do sexo feminino. O termo transgénero é utilizado para descrever o grupo de pessoas que não se enquadra na forma como as definições de "homem" e "mulher" são concebidas socialmente e inclui transexuais, hemafroditas, andrógenos, travestis e transformistas. Ou seja, ser gay, lésbica ou bissexual refere-se à orientação sexual do indivíduo, enquanto que ser transgénero refere-se à identidade do género do indivíduo.

R.A- Os homossexuais são reconhecíveis fisicamente?

Dr.ª- A maioria das pessoas nunca pensa que as pessoas que conhecem podem ser homossexuais. Isto quer dizer que a maioria das pessoas assume à partida que todas as pessoas são heterossexuais. Além disso, pensam que têm uma imagem nítida de qual é aparência dos homossexuais: "Todos os gays são efeminados e todas as lésbicas são masculinizadas". Esta é a opinião generalizada, mas não corresponde à realidade. Geralmente não é possível ver a homossexualidade através da aparência. Os gays e as lésbicas têm a mesma aparência e agem tal e qual como todas as outras pessoas. As pessoas com maneirismos são uma minoria entre os homossexuais. Porém, se a homossexualidade de repente se tornasse visível, descobririas que já conheceste gays e lésbicas, sem saberes. Talvez a tua melhor amiga, o teu primo, a tua tia, o carteiro, o empregado do supermercado, a tua professora, um deputado do parlamento ou o teu artista favorito sejam homossexuais. Na verdade, a invisibilidade dos homossexuais significa que o conhecimento de como lésbicas e gays vivem as suas vidas é muito limitado. Mas como cada vez há mais homossexuais a falarem abertamente das suas vidas, esta invisibilidade está a diminuir. E, aos poucos e poucos, as atitudes negativas em relação aos homossexuais irão também modificar-se.





R.A- Quantos homossexuais existem?

Dr.ª- Muitos homossexuais apercebem-se desde muito cedo que as suas paixões e interesses estão direccionados para membros do mesmo sexo. Outros não descobrem até mais tarde nas suas vidas o que é que os seus sentimentos querem dizer. Muitos destes encontram-se até em relações heterossexuais, casados e com filhos. Por estas razões é muito difícil determinar quantos homossexuais existem. Mas está estimado que entre 5 a 10% da população é homossexual assumida ou tem sentimentos homossexuais aos quais não corresponde devido à pressão social.





R.A-As pessoas podem "tornar-se" homossexuais?

Dr.ª- As pessoas não "se tornam" homossexuais, mas antes descobrem essa faceta da sua sexualidade. Para praticamente todos os homossexuais, a homossexualidade não é uma escolha. A única escolha feita, quando decidimos viver a nossa sexualidade plenamente, é a de sermos honestos, de sermos nós próprios e de, acima de tudo, sermos felizes.